São Paulo – Dados da B3 indicam que 48 empresas deixaram o mercado de ações entre outubro de 2023 e outubro de 2025. No período, o total de companhias listadas caiu de 416 para 368, apesar do Ibovespa ter batido recorde nominal de 165.035,97 pontos em 5 de dezembro de 2025.
Quem saiu
Entre as empresas que cancelaram registro estão Cielo, Carrefour Brasil, Santos Brasil, BRF, Grupo Soma, Sinqia, Eletromidia e Eletropar.
Motivos apontados
Analistas atribuem o movimento a dois fatores principais:
• Selic a 15% ao ano – juros elevados aumentaram o endividamento e pressionaram resultados, levando parte das companhias à recuperação judicial.
• Ação barata na bolsa – desvalorização prolongada estimulou controladores a recomprar ações e fechar o capital.
“Há duas bolsas no Brasil: a das grandes, que vai bem, e a das pequenas, esquecida”, disse Felipe Corleta, sócio da Brazil Wealth.
Recorde que não reflete a maioria
Petrobras, Vale e grandes bancos concentram mais da metade do Ibovespa, o que, segundo Corleta, distorce a percepção de desempenho. Diversas ações seguem até 90% abaixo dos picos históricos.
A valorização recente é atribuída ao cenário externo, como a desvalorização do dólar e o início do corte de juros em economias desenvolvidas, afirmou o analista.
Custo e complexidade de abrir capital
Para John Murillo, diretor de negócios da B2BROKER, o apetite por risco mostrado no índice não significa que fazer IPO no Brasil seja atrativo. “Abrir capital continua caro, complexo e arriscado”, disse, citando instabilidade econômica, incertezas fiscais e volatilidade.
Segundo Murillo, empresas têm recorrido a fundos privados, crédito estruturado ou bolsas estrangeiras como alternativas de financiamento.
Brasil perde espaço internacional
Levantamento do Banco Mundial aponta 331 companhias brasileiras listadas em 2024, número inferior ao de Índia, Coreia do Sul, Turquia e Chile. O total já foi de 478 em 2000 e 592 em 1986.
Guilherme Almeida, sócio-diretor da A&M Performance, observa que juros altos barateiam empresas médias, favorecendo aquisições ou recompra de ações. “O índice bate recorde porque o capital estrangeiro busca blue chips, enquanto os pequenos negócios sofrem com liquidez reduzida”, afirmou.
Almeida acrescenta que o custo regulatório para manter capital aberto no país é elevado, diferentemente de mercados como o chileno, onde os juros são menores e há incentivos para listagens de menor porte.
Participação das companhias abertas na economia
Estudo FGV/Abrasca com as 270 maiores companhias abertas aponta geração de R$ 2,1 trilhões em valor adicionado em 2024, o equivalente a 17,9% do PIB. Juntas, elas empregam 2,8 milhões de pessoas e recolheram R$ 639,6 bilhões em tributos no período.
O levantamento mostra ainda que as 15 maiores empresas respondem por 14,6% da arrecadação empresarial total, enquanto as 270 analisadas representam 23%.
Mesmo com menos companhias na bolsa, estudos indicam que o segmento segue relevante para emprego, arrecadação e formação de riqueza nacional.
Com informações de Poder360
