Ar mais limpo reduz brilho das nuvens e intensifica aquecimento, indica pesquisa

0
19

Entre 2003 e 2022, nuvens de baixa altitude sobre o Atlântico Norte e o Pacífico Nordeste perderam parte de sua capacidade de refletir a luz solar, o que contribuiu para o aumento da temperatura da superfície do mar. A conclusão faz parte de um estudo liderado pelo pesquisador Knut von Salzen, da Universidade de Washington, publicado nesta segunda-feira (8.dez.2025) em The Conversation.

Os dados de satélite analisados mostram que a refletividade dessas nuvens caiu quase 3% por década no período avaliado. Consequentemente, as temperaturas da superfície oceânica nessas regiões subiram cerca de 0,4 °C, intensificando ondas de calor que afetam ecossistemas marinhos e a pesca.

Poluição por partículas em queda

Os autores identificaram a redução de aerossóis — minúsculas partículas que servem de núcleo para a formação de gotículas — como principal fator da mudança. Com menos aerossóis na atmosfera, as gotículas ficam maiores, as nuvens se tornam menos brilhantes e se dissipam mais rapidamente, permitindo maior entrada de radiação solar.

Segundo o estudo, 69% da perda de refletividade se deveu à diminuição dos aerossóis, enquanto 31% foi atribuída ao aquecimento global já em curso. Apenas modelos climáticos que representam com precisão a interação entre aerossóis e nuvens reproduziram as observações coletadas.

Corte de emissões de SO₂

As emissões globais de dióxido de enxofre (SO₂) — principal fonte de aerossóis de sulfato — caíram de forma acentuada após a adoção de normas mais rigorosas de qualidade do ar. Na China, a redução chegou a cerca de 16 milhões de toneladas métricas por década desde 2003. Tendência semelhante foi registrada nos Estados Unidos e na Europa.

Os pesquisadores observaram quedas de 5% a 10% na concentração de gotículas em nuvens nas áreas mais afetadas, reforçando a ligação entre ar mais limpo e menor refletividade.

Impacto energético

O escurecimento das nuvens adicionou aproximadamente 0,15 watt por metro quadrado (W/m²) por década ao desequilíbrio energético global da Terra, embora as regiões analisadas representem apenas 14% da superfície planetária. Para efeito de comparação, o aumento dos níveis de dióxido de carbono (CO₂) elevou esse desequilíbrio em cerca de 0,31 W/m² por década no mesmo intervalo.

Desafio para políticas públicas

O estudo destaca um paradoxo: medidas que melhoram a qualidade do ar e beneficiam a saúde humana também removem o efeito de resfriamento que a poluição exercia sobre o planeta, expondo o pleno impacto do aquecimento causado pelos gases de efeito estufa.

Os satélites usados para monitorar nuvens e aerossóis devem ser desativados até 2026. Os autores defendem a continuidade desse tipo de observação e o aprimoramento dos modelos climáticos para estimar com maior precisão o aquecimento nas próximas décadas.

Com informações de Poder360

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here