Preso no Rio comandava fábrica clandestina de fuzis em SP com peças vindas dos EUA

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Rio de Janeiro e São Paulo — Mesmo recolhido no Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste do Rio, o mineiro Silas Diniz Carvalho, conhecido como “Gordão” ou “Mikhail”, era apontado pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF) como chefe de uma das maiores linhas clandestinas de produção de fuzis já identificadas no país. A estrutura funcionava em Santa Bárbara d’Oeste, interior paulista, e utilizava peças importadas dos Estados Unidos.

Fachada aeronáutica

A produção operava dentro da empresa Kondor Fly Parts Indústria e Comércio de Peças Aeronáuticas Ltda., aberta em maio de 2024 por Gabriel Carvalho Belchior. Foragido, ele mantém residência entre Kansas City, no Texas, e Vero Beach, na Flórida, segundo a PF. Embora registrada como fabricante de componentes aeronáuticos, a firma existia, de acordo com a denúncia, exclusivamente para maquiar o maquinário e o recebimento de itens voltados à montagem de fuzis das plataformas AR-15, M4 e M16.

Documentos anexados ao inquérito revelam remessas de peças enviadas por Gabriel a endereços no Brasil e mensagens que comprovam a ligação direta com Gordão. Entre os itens, constam alavancas de manejo e empunhaduras compradas em um site de comércio eletrônico norte-americano pelo também acusado Walcenir Gomes Ribeiro, cujo endereço de entrega foi o imóvel usado por Gabriel na zona oeste do Rio. Walcenir está preso no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Campinas.

Coordenação de dentro da prisão

Integrante do Comando Vermelho, Silas, preso desde outubro de 2023, definia pagamentos, escolhia operadores e validava máquinas à distância, segundo o MPF. A esposa dele, Marcely Ávila Machado, chamada de “Vitória” ou “Vick”, controlava as finanças em prisão domiciliar, enviando recursos mensais para manter a fabricação.

Estrutura e pagamentos

O galpão que abrigava a Kondor Fly Parts havia sido alugado em 2023 pela empresa BSW Usinagem e Comércio, administrada por Wendel dos Santos Bastos. Em 2024, sob ordem de Gordão, Janderson Aparecido Ribeiro de Azevedo negociou o arrendamento do espaço. O contrato, detalha o MPF, previa R$ 75,5 mil por mês: R$ 6,5 mil pelo imóvel e R$ 69 mil pelo uso das máquinas.

Para manter a linha de produção, o grupo recrutou operadores industriais experientes. Anderson Custódio Gomes (“Boi”), Dinael Enrique Borges e Lucas Gonçalves Dias, todos no CDP de Campinas, usinavam as peças sob supervisão de Clayton Combe Ribeiro (foragido), Walcenir e Janderson.

Armazém com 31 mil componentes

Outro imóvel, em Americana (SP), alugado em nome de Walcenir, funcionava como depósito. Ali, a PF apreendeu mais de 31 mil peças destinadas à montagem de fuzis. Registros em nuvem, contratos e comprovantes ligam o galpão ao esquema investigado.

Continuidade do modelo clandestino

Segundo a denúncia, a fábrica paulista sucedeu uma estrutura desmantelada pela PF em Belo Horizonte em 2023. Após a prisão de Gordão, a organização migrou para São Paulo, recompôs o parque fabril e ampliou a produção, mantendo a coordenação remota do líder.

Mensagens, contratos, pagamentos e acessos a contas virtuais indicam, de acordo com o MPF, uma operação criminosa estável, com atuação transnacional e divisão de tarefas clara, responsável por colocar no mercado armas de uso restrito produzidas em série.

Com informações de Metrópoles

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