Ex-delegado executado em Praia Grande preparava dossiê sobre fraudes em licitações municipais

0
20

O ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, assassinado a tiros em 15 de setembro na Praia Grande, vinha reunindo informações para entregar ao Ministério Público estadual sobre um suposto esquema de fraudes em licitações da prefeitura local.

Um rascunho do documento, localizado no notebook da vítima após o crime, menciona pelo menos 11 processos licitatórios realizados entre 2021 e 2025 que teriam sido direcionados para favorecer a empresa de câmeras de monitoramento Peltier. No texto, Ferraz descreveu que os servidores investigados “estão ricos, vivendo em apartamento de luxo, carros importados e viagens para o exterior”.

Servidores citados

Entre os nomes listados no rascunho aparece Sandro Rogério Pardini, subsecretário de Gestão e Tecnologia. Também são mencionados uma funcionária do Departamento de Integração da Informação da Secretaria de Planejamento e um engenheiro de telecomunicações que teria desclassificado concorrentes melhor posicionadas nas disputas.

As suspeitas começaram a ser apuradas pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG) da Praia Grande, que, em 3 de outubro, cumpriu mandados de busca e apreensão contra cinco servidores. A íntegra do dossiê não foi anexada ao inquérito.

Reuniões tensas antes do crime

Em depoimentos, os servidores relataram duas reuniões com Ferraz dias antes da execução. Na primeira, ocorrida horas após a desclassificação das três primeiras colocadas no pregão eletrônico aberto em 1º de setembro, o ex-delegado teria se exaltado e expulsado uma funcionária do gabinete. O lote acabou vencido pela Peltier após a eliminação de Avenue, Alerta e New Line, cujos equipamentos foram considerados irregulares por parecer técnico.

Uma semana depois, novo encontro foi realizado no gabinete de Ferraz, onde o então secretário de Administração solicitou documentos de licitações anteriores atribuídas à Peltier.

MP aponta ordem do PCC

Apesar da existência do dossiê, o Ministério Público de São Paulo sustenta que a morte de Ferraz foi ordenada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) e começou a ser arquitetada em março, antes de o ex-delegado descobrir as supostas irregularidades. A promotoria baseia a acusação em um “salve” da facção datado de 2019 e no envolvimento de suspeitos ligados à organização criminosa.

Oito pessoas foram denunciadas, entre elas Felipe Avelino da Silva, o Masquerano, e Flávio Henrique Ferreira de Souza, cujas digitais apareceram em um Jeep Renegade usado na ação. Umberto Alberto Gomes, apontado como possível atirador, morreu em 30 de setembro, em Curitiba, durante confronto com policiais. Luiz Antônio Rodrigues de Miranda, o Gão, é investigado como motorista do veículo da execução. Outros denunciados teriam cedido imóveis ao grupo.

Licitação suspensa

Duas semanas antes de ser morto, Ferraz suspendeu uma licitação de R$ 14 milhões que beneficiaria a Peltier, após identificar possível desclassificação arbitrária de empresas com propostas mais vantajosas.

Posicionamento da prefeitura

Procurada, a Prefeitura de Praia Grande afirmou que o Ministério Público já descartou relação entre o assassinato e a atuação de Ferraz na Secretaria de Administração, reforçando a tese de mando do PCC. A administração municipal não informou se tomou medidas contra os servidores citados.

Com informações de Metrópoles

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here