A Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) disponibilizou o e-book bilíngue “Segurança e Liberdade de Imprensa – Ameaças a Jornalistas no Brasil”, que apresenta diferentes formas de agressão sofridas por profissionais da imprensa no país. O material, gratuito, foi lançado em 6 de dezembro de 2025 e reúne estudos produzidos por alunos de pós-graduação sob orientação das professoras Elizabeth Saad e Daniela Osvald.
Com cinco capítulos, a publicação descreve casos ocorridos em várias regiões e mostra que a violência vai além do contato físico, incluindo assédio psicológico e ataques virtuais. Relatórios da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) citados na obra indicam quase 300 agressões a jornalistas apenas no Estado de São Paulo entre 1982 e 2024.
Disciplina pioneira
Os textos derivam da disciplina “Novos Paradigmas e Dimensões da Violência no Campo da Comunicação: Assédios e Ameaças aos Jornalistas e Comunicadores”, criada por Saad e Osvald em parceria com a Oslo Metropolitan University (Oslomet) e outras duas instituições estrangeiras. O convênio, financiado durante cinco anos pelo Instituto de Pesquisa da Noruega, foi concluído em 2025, mas as docentes pretendem manter o curso aberto a ouvintes.
Segundo as professoras, a maioria dos cursos de jornalismo no Brasil não oferece treinamento específico sobre segurança profissional, lacuna que motivou a criação da disciplina e, posteriormente, do livro. O lançamento contou com apoio dos grupos de pesquisa Com+ e Obcom, ambos da ECA-USP.
Casos destacados
No capítulo que aborda o Carnaval de 2025, o jornalista e escritor Marcelo Rubens Paiva relata ter sido atingido por uma mochila, uma lata de cerveja e uma camiseta enquanto era homenageado pelo bloco Acadêmicos do Baixo Augusta, em São Paulo. Na mesma ocasião, o fotógrafo Bruno Santos, da Folha de S.Paulo, recebeu chutes de seguranças ao tentar registrar um desentendimento.
Outro capítulo examina episódios de racismo, transfobia e violência de gênero, como os ataques sofridos pela repórter Joyce Ribeiro nas redes sociais em 2014, quando ela trabalhava no SBT. A obra também relembra o sequestro do jornalista Guilherme Portanova pela facção Primeiro Comando da Capital (PCC) em 2006, que durou mais de 40 horas e foi resolvido após a TV Globo exibir um vídeo exigido pelos criminosos.
Imagem: Reprodução/Pexels
Agressões de agentes públicos
Em entrevistas incluídas no livro, Daniela Osvald afirma que a liberdade de imprensa no Brasil “nunca foi ideal” e ainda sofre influência da autocensura instaurada durante a ditadura militar (1964-1985). Dados da Fenaj analisados pelo grupo mostram que 55% das agressões a jornalistas, nos últimos 20 anos, foram praticadas por agentes governamentais, atores políticos ou forças de segurança.
As autoras destacam que a escalada de violência se intensificou com a polarização política recente. De acordo com levantamento citado na publicação, desde 1988 nenhum ano eleitoral passou sem pelo menos um assassinato de jornalista por motivações profissionais.
O e-book “Segurança e Liberdade de Imprensa – Ameaças a Jornalistas no Brasil” pode ser baixado gratuitamente em versões em português e inglês.
Com informações de Poder360

