Imagens de satélite revelam até 15 °C de diferença entre favelas e bairros vizinhos em São Paulo

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Levantamento realizado no último verão com dados do satélite Landsat 8 mostrou que, na cidade de São Paulo, as superfícies de favelas chegaram a registrar até 15 °C a mais do que áreas vizinhas de padrão urbanístico mais elevado.

Na comparação mais expressiva, a temperatura dos telhados e ruas do Morumbi ficou em torno de 30 °C, enquanto em Paraisópolis, separada do bairro por poucas quadras, o termômetro ultrapassou 45 °C. Em Heliópolis, outra grande comunidade paulistana, os valores passaram dos 44 °C nos dias mais quentes.

O estudo foi conduzido pelos pesquisadores Rohit Juneja, Flávia Feitosa e Victor Nascimento, do Centro de Estudos da Favela (Cefavela), ligado à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e sediado na Universidade Federal do ABC. Os resultados preliminares foram publicados na plataforma Nexo Políticas Públicas.

Para chegar aos números, o grupo analisou 19 imagens termais captadas entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025. Esses registros medem a temperatura de superfícies — telhados, asfalto e solo — e, por isso, apresentam valores superiores aos do ar.

Segundo o Censo 2022 do IBGE, São Paulo tem cerca de 11,5 milhões de habitantes. Desse total, mais de 1,7 milhão vive em 1.359 favelas que ocupam somente 4 % da área do município, mas concentram mais de 15 % da população. Nessas regiões, a pesquisa identificou temperaturas de superfície superiores a 40 °C de forma recorrente.

A variação interna entre comunidades também chamou atenção. No distrito do Capão Redondo, na zona sudoeste, quatro das dez favelas mais quentes da capital foram registradas: Jardim Capelinha/Nuno Rolando marcou 47,4 °C; Jardim D’Abril 2, 47,3 °C; e Basílio Teles, 47,2 °C. Na outra ponta, o Jardim Apurá, próximo à represa Billings, apresentou 23,7 °C, enquanto Alto da Riviera B/Jardim Guanguará, perto da Guarapiranga, marcou 23,6 °C.

Os autores destacam que o calor extremo reflete escolhas de ocupação do solo e pode ser reduzido com soluções baseadas na natureza, como corredores verdes, parques, telhados vegetados e sistemas de drenagem sustentável. Eles defendem que a temperatura seja considerada critério de inadequação habitacional e lembram que o debate envolve decisões políticas além de questões técnicas. O estudo contou com bolsas de treinamento técnico da Fapesp para Juneja e de pós-doutorado para Feitosa.

Com informações de Poder360

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