A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) divulgou nesta terça-feira, 2 de dezembro de 2025, a edição 2026 do relatório “Desafios de Inteligência”. O documento, ainda fora do site da autarquia, lista ameaças que podem impactar o Estado brasileiro no próximo ano, com destaque para a segurança do processo eleitoral.
Principais eixos de risco
O estudo consolidou cinco frentes consideradas mais sensíveis:
- segurança do processo eleitoral;
- transição para criptografia pós-quântica;
- ataques cibernéticos autônomos com uso de inteligência artificial;
- reconfiguração das cadeias globais de suprimentos;
- dependência tecnológica e interferência externa.
A elaboração contou com universidades, centros de pesquisa e órgãos públicos, abordando temas como clima, tecnologia, demografia e migrações.
Eleições de 2026
Segundo a Abin, o pleito de 2026 estará sujeito a “ameaças complexas e multifacetadas”. O relatório cita tentativas de deslegitimação das instituições democráticas, semelhantes aos atos de 8 de janeiro de 2023, alimentadas por manipulação de massas e disseminação de desinformação.
Entre outros riscos, aparecem a influência do crime organizado em áreas sob seu domínio e eventuais interferências externas para favorecer interesses geopolíticos estrangeiros.
Ataques cibernéticos e inteligência artificial
O documento adverte que a rápida evolução da inteligência artificial pode viabilizar ofensivas autônomas capazes de planejar, executar e adaptar ataques cibernéticos, elevando a probabilidade de incidentes com potencial de escalonar para conflitos militares.
A Abin defende fortalecer a soberania digital, mas reconhece obstáculos como a dependência de hardware estrangeiro e a concentração de dados nas chamadas big techs. A agência lembra que o País já desenvolve aplicativos governamentais com criptografia pós-quântica, mas alerta que a computação quântica poderá tornar obsoletas as atuais chaves públicas em cinco a 15 anos, exigindo transição urgente para algoritmos nacionais.
Cenário geopolítico
Para o diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, 2025 marcou a intensificação da crise internacional. O relatório descreve um quadro de “multipolaridade desequilibrada e desinstitucionalizada”, impulsionado pela rivalidade entre Estados Unidos e China. O texto menciona o uso de instrumentos econômicos como forma de pressão política, ameaças militares a países latino-americanos e a corrida global pela supremacia em inteligência artificial.
Cadeias globais de suprimentos
A agência aponta que a reorganização das cadeias de suprimentos foi acelerada pela ascensão chinesa, pela guerra econômica com os EUA e pelas falhas expostas pela pandemia de covid-19. Define o momento como de “desglobalização deliberada”, marcado por tarifas agressivas e desvalorização do dólar.
O Brasil enfrenta dependência dupla: superavit comercial concentrado na China, via commodities, e necessidade de tecnologias ocidentais para investimentos.
Clima e desastres
O relatório indica que 2024 foi o ano mais quente já registrado, com temperatura média 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais. Entre os reflexos, cita a seca amazônica e as enchentes no Rio Grande do Sul em 2024. As perdas setoriais alcançam R$ 13 bilhões por ano, enquanto o setor energético deixa de gerar R$ 1,1 bilhão anuais pela redução dos “rios voadores”. Até 46 % das pragas agrícolas podem piorar até 2100, e a elevação do nível do mar ameaça infraestrutura crítica e populações litorâneas.
Demografia e migrações
A Abin observa que maior longevidade e queda da taxa de fecundidade redesenharão as sociedades. O País já lida com evasão de profissionais qualificados ao exterior e com a chegada de mais imigrantes, pressão que tende a aumentar sobre serviços públicos e segurança de fronteiras.
Disputa na América do Sul
O documento afirma que a região se tornou mais suscetível a disputas por recursos estratégicos — como lítio, terras raras, petróleo e biodiversidade amazônica. A China é citada como principal parceira comercial do Brasil, enquanto os EUA elevam a pressão por alinhamento, inclusive com ameaças militares.
O relatório “Desafios de Inteligência” busca antecipar riscos para subsidiar decisões da Presidência da República na formulação de políticas públicas e na proteção de dados sensíveis do Estado.
Com informações de Poder360